"O mundo gira, a vida muda, a fila anda..." Deise Batista

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domingo, 22 de agosto de 2010

Exposição


Falta pouco para o que restou de mim
Uma chave para abrir aquela porta
E eu exposta
Na prateleira das línguas
Que sempre falam o que querem.
Não sei me importar com o que pensam
É tempo demais jogado fora e...
Enquanto observam-me a nudez
Costuro frases na memória
Faço versos...
Estranho algumas pessoas
Umbigos profundos à mostra
Egos incabíveis saindo pelos poros
E olhos que se contentam com buracos de fechadura.
Despida de minhas defesas
Entrego-me às alturas;
É doce olhar o céu e contemplar estrelas
Sacia-me a fome, o ar que é pra todos
E o cheiro da terra de onde vim
E para onde, certamente, voltarei um dia.

sábado, 21 de agosto de 2010

40 Graus



Afiada a faca
Na cintura espera
A mostra do pescoço.
Ódio a mover a mão
Má intenção.
Amargo, o céu da boca
Amarra a língua
Pára a palavra
Na garganta seca.
Murro guardado no punho
Hematomas
Alma roxa.
E o sono a ir embora
Madrugada a dentro.
Ao relento a mágoa
Esfriando a noite
De 40 graus.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Reprodução



Vou trocar o celular por um violão!
Ai que triste a tecnologia sem perdão...
Tantos megabites e tão pouco carinho
Memória virtual e Alzheimer!
Quanto mais carrego meu palm de informações
Mais perco o ritmo de meus neurônios pouquíssimo acessados.
Penso que, se não nos livrarmos das memórias eletrônicas
Um dia, viraremos implantes.
Noventa por cento chips e os outros dez...perdício!
Quero tanto voltar a ser a mulher que Deus criou perfeita
Porque hoje não me lembro, no jantar, o que comi no almoço.
O pior, é que todo mundo se acostuma com isso.
Memória ruim
Se não anotar, foi-se!
Quando ainda eram os cavalos de quatro patas que motorizavam os homens
A memória era notória nos poetas que, de cor,
Declamavam Camões, Azevedo, Machado e tantos outros.
Hoje, papel, pautas, gravações, projeções e teleprompter ou dá branco!
Não sei bem se sou uma saudosa senhora de 43 anos
Que sente falta do que leu nos livros
Ou uma jovem mulher a enterrar um neurônio todos os dias.
Só carrego uma certeza
Os dez neurônios que me restam, quero tanto que, um dia
Se apaixonem, casem e produzam novos neuroniozinhos
Repovoando essa cabeça sem miolos!
E enquanto isso é só um devaneio ridículo,
Do que mesmo eu estava falando?

domingo, 8 de agosto de 2010

Depois que vai embora...

Meu pai, com meu filho no colo.

Dia dos Pais é um massacre pra quem já perdeu o seu.

A gente se sente um tanto deslocado, em qualquer lugar que ande e o desejo de abraçar seu próprio pai, vai contigo, o dia todo.

Depois de quase 11 anos, a gente é meio cobrado pra não chorar a saudade, mas, num canto qualquer da casa, você o vê na lembrança e, mesmo sem querer, a lágrima rola.

Raimundão gente fina! Ele amava quando eu o chamava assim.

Homem firme, forte, dono das soluções imediatas, líder nato, de monstro a exemplo!

De tão firme, nos amedrontava quando crianças, mas, foi sem dúvida alguma, meu melhor e maior amigo na vida!

Não me pautei por seus erros que, não foram poucos, mas, firmei meu amor no abraço apertado da vida adulta, no avô dedicado, de amor derramado, sem limites.

Abracei o carinho de meu pai depois dos vinte anos e tive o melhor pai que alguém pode ter na vida!

Não esqueço sua voz, todos os dias ao telefone, mesmo em interurbano Rio-Curitiba: "Oi, filhona, tudo bem?"

Não falhava um só dia; a saudade era grande e, quando nos víamos, a festa era muito maior!

Estivemos longe, tempo demais, juntos, tempo de menos, mas o que é o tempo?

A qualidade de amor que meu pai soube derramar sobre mim, abonou todos os anos em que vivemos no gelo.

Nordestino, festeiro, homem de caráter firme, pai!

Quero tanto vê-lo no céu...

Sinto sua falta todos os dias e quando preciso de um ombro, mais ainda.

Em síntese, sou filha de Raimundo, herdeira de seu amor pela arte, pelo som, pela poesia.

Filha de nordestino cabra macho, que me deixou a maior herança que um pai pode dar a um filho: caráter!

Tenho tanto dele dentro de mim e sou capaz de vê-lo em alguns atos de meu filho; inclusive, nos olhos verdes.

domingo, 1 de agosto de 2010

Ler as Bulas


Alguém me diz que eu bati com a cabeça, por favor?

Dei banho no meu cachorro com veneno para piolhos!

Num resultado desastroso
Lambendo a substância que lhe escorria pelas patas, bebeu o veneno.

Cheguei na hora em que meu pobre York contorcia-se.

Feito louca, abracei meu “filho” cão com uma toalha, saí pela rua chorando e sentindo as distensões do corpo frágil  de Toby.

O óbvio laudo da veterinária, me fez sentir vergonha de minha ignóbil insensatez: “Envenenamento!”

Olhou-me com raiva, enquanto colocava o pequeno lesionado no soro
e aplicava-lhe injeções, numa operação emergencial de dar inveja a qualquer ser-humano dependente de hospital público.

Se existisse um SUS para cachorros, Toby certamente, estaria morto!

Mas, como, graças a Deus, o SUS não chegou aos consultórios veterinários, quem morreu fui eu, quando vi a conta!

Até ali, havia morrido duas vezes, só de susto.

Mas minha melhor morte, foi a de alegria, quando, no dia seguinte, meu companheiro de jornada pulava alegremente e corria atrás de sua bolinha vermelha.

Espantando o horrível sentimento de culpa, desta iletrada Jornalista que odeia bulas.

Sofismas


Não sei o que é sofisma, mas, tenho a impressão de ser algo enganoso, proposital, como um sorriso forjado que, de verdade, não queria estar na boca.                                                                                   


Não gosto dos sorrisos amarelos, prontos pra induzir; prefiro a lágrima que diz mais verdades.                                                              


Toda vez que o quarto me fez surpresa e os armários garantiram que não era insanidade, achei maldade... de verdade: covardia.    


Aí, resistência ao extremo e grito no travesseiro, imaginando seu sorriso de fuga depois das juras que me levaram a saber que sofisma é mesmo engodo, e a porta nem tinha sido trancada.                       


Não entendo, até hoje, as fugas. Como se pode fugir de quem não prende, não impede, sequer apara as penas de uma liberdade dita, antes, nula? 


Morri algumas vezes...de tristeza, raiva, pânico, dor e desespero...  


É tão inútil morrer assim, porque o peso continua e a inércia tem que dar lugar ao movimento, ainda que lento e sem vontade.     


Em volta tudo igual e dentro, um vento gelado, cortando a alma, mesmo nos dias quentes.